29 July 2007

A Maltrapilha

Quando eu era criança a minha familia comprava todas as semanas um fascículo de um romance de "faca e alguidar" que ao fim de não sei quantos anos foi encadernado em cinco ou seis volumes. Quando eu era adolescente dei-me ao trabalho de ler esse romance. Os personagens eram tantos e tão diferentes do início do romance até ao final, para não falar do enredo.
As pessoas da minha idade ou mais velhas certamente se lembram deste tipo de literatura barata vendida porta a porta. Também havia quem vendesse fascículos com canções do bandido e letras do ceguinho.

A partir desta ideia concebi uma obra cerâmica para participar na VIII Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro. A obra intitula-se "Romance de Cordel em 27 Capítulos", sendo que a cada capítulo corresponde uma peça cerâmica. Todas as peças são para pendurar na parede ocupando uma area aproximada de 10 metros. O romance é extenso mas ao contrário dos tradicionais romances de cordel o meu enredo é:

O simples e o complexo

-Romeiro, Romeiro quem és tu?
-Eu?! Sou um fruto. Fruto do caldo em que cresci.
Sou uma cereja, uma folha de hortelã, um fiozinho de groselha.
Sou um espelho, um retrato, um reflexo.
-Romeiro, Romeiro quem és tu?
-Eu?! Sou um joaquinzinho. Um que não se deixou fritar.
Sou um mero. Um mero ceramista, alquimista pintor e contador de estórias.

Ricardo Casimiro
PS. Esperem pelo dia 8 de Dezembro para a inauguração da Bienal em Aveiro e terão oportunidade de "ler" este romance na parede.

No comments: