Ao meu lado, no banco, à espera do autocarro, sentou-se uma mulher dos seus 70 anos. Na mão esquerda um saco de plástico e um jornal de distribuição gratuita.
Começou então a folhear o jornal. Pelo canto do olho observei algo que me intrigou. A mulher folheava o jornal com a ajuda do polegar da mão direita. Ou melhor, usava exclusivamente a unha do polegar direito pintada de verniz dourado. Na realidade todas as unhas da mão direita eram enormes e pintadas de dourado.
Observei melhor e constatei duas coisas: a mão esquerda tinha as unhas curtas sem verniz e o braço e a mão direita jaziam "moles" ao lado do corpo. Um braço há muito inerte e definhado. Na sua adaptação às circunstancias aquela unha tornara-se a própria mão.
Assim, de que outra cor poderia ser o verniz?
PS. Porque é que escrevo estas coisas se me considero um artista da cerâmica?
É porque estou sempre atento à realidade humana em que eu próprio existo como pessoa. Daí passar para a cerâmica muitas destas pequenas observações do meu quotidiano na cidade.
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