José-Luis Ferreira sobre
“A Conferência dos Bichos”
MUTANTES & COISAS TRANSFIGURADAS
selando uma dívida, à memória de ROSA RAMALHO
“A Conferência dos Bichos”
MUTANTES & COISAS TRANSFIGURADAS
selando uma dívida, à memória de ROSA RAMALHO
No âmago das suas profundezas, o imaginário popular é habitado pelas mais estranhas figuras, não só reminiscentes das fantasias da infância, de sonhos magníficos e pesadelos delirantes, como – inexplicavelmente – vindas à tona da milenar memória colectiva do Homem, oriundas dos mais remotos tempos…
Por isso, as mais estranhas, exóticas e imprevisíveis formas, criadas pela inventiva dos artistas mais imaginativos conquista tanto o público sensível (popular, na generalidade ou, erudito, cada vez menos, na raridade), gerando comentários por vezes bem mais grotescos, pouco razoáveis e fantásticos do que elas mesmas, na sua originalidade, na autenticidade generosa e verdadeira da sua inspiração.
Separados por uma dúzia de anos, com percursos artísticos dissemelhantes, por dois tipos de formação cultural diversa, sedimentada em diferentes aprendizados, Ricardo CASIMIRO e Sérgio AMARAL apresentam-se lado a lado, frente-a-frente, mano-a-mano, nesta exposição, uma fantástica mostra de «coisas do maravilhoso».
Pode afirmar-se estarmos na presença de dois artistas de gema, autores de primeira grandeza que, generosamente, oferecem personagens de ambos os seus diferentes mundos, onde, algo de comum se verifica, para além da temática de abordagem.
A estética da escultura modelada e algumas tecnologias experimentais da cerâmica entretecem-se e, com as diferenças próprias da linguagem plástica individual de cada um deles, traduzem e produzem obras de muito considerável valor e alcance, senão modelares, ou exemplares, menos pela diferença que entre si estabelecem do que por aquela que as distingue e sobrevaloriza, em relação a outros artistas do mesmo …ofício.
Sérgio AMARAL, desenhista e pintor, escultor e ceramista, por vocação e profissão de fé, um serrano sedentário da Beira-Interior, inicia a sua carreira em 1981, com 22 anos.
Ricardo CASIMIRO, químico de formação, ceramista-escultor, por vocação e profissão de fé, também, nasce no estuário sadino, à beira-mar e …apenas surge a público mais tarde, em 2003, após ter cursado cerâmica criativa e escultura cerâmica (1999-2005), com 53 anos.
Mais jovem, o primeiro é um artista mais velho. Mais velho, o segundo é, porém, um artista mais novo…
Sérgio AMARAL é um experimentalista self made, investigador autodidacta, que, ao longo de anos, emprestou o seu talento ao mercantilismo artesanal, enquanto Ricardo CASIMIRO, oriundo de dois tipos diferentes (mas inter-complementares) de aprendizado escolar, instituiu, para si mesmo, uma lógica mais elaborada, induzida por uma paixão arqueo-ancestral que o identificou com o visionarismo tentador de Bosch.
Um e outro – lado a lado, frente-a-frente, mano-a-mano – trazem, ambos, um novo desafio a esta portucalense terra de Barcelos – um dos berços históricos da vetusta tradição cerâmica portuguesa – que contou com a majestade artística da grande Rosa Ramalho, de Santa Maria de Galegos.
De MUTANTES se chama esta bela exposição, onde os autores combatem e servem, com lirismo crítico, a mesma iconoclastia sacro-santifical, surrealizando as ortodoxias do real naturalismo e do néon-realismo, por um lado e, enaltecendo, por outro, o poder da imagem usando-o contra si própria, em nome de valores genuínos, contra outras forças artificiais, (in)descritivelmente hipócritas, que campeiam em nome da Paz, nas guerras de hoje. E pensar eu que não edito, aqui, um texto complicado sobre o tema! «Rosa, minha velha Amiga, que estes sejam – na (des)ordem genética desta Vida, dois dos teus sucessores desconhecidos, enquanto portadores de uma mesma mediúnica mensagem!»
José-Luis FERREIRA Caramulo 2007-10-07
Por isso, as mais estranhas, exóticas e imprevisíveis formas, criadas pela inventiva dos artistas mais imaginativos conquista tanto o público sensível (popular, na generalidade ou, erudito, cada vez menos, na raridade), gerando comentários por vezes bem mais grotescos, pouco razoáveis e fantásticos do que elas mesmas, na sua originalidade, na autenticidade generosa e verdadeira da sua inspiração.
Separados por uma dúzia de anos, com percursos artísticos dissemelhantes, por dois tipos de formação cultural diversa, sedimentada em diferentes aprendizados, Ricardo CASIMIRO e Sérgio AMARAL apresentam-se lado a lado, frente-a-frente, mano-a-mano, nesta exposição, uma fantástica mostra de «coisas do maravilhoso».
Pode afirmar-se estarmos na presença de dois artistas de gema, autores de primeira grandeza que, generosamente, oferecem personagens de ambos os seus diferentes mundos, onde, algo de comum se verifica, para além da temática de abordagem.
A estética da escultura modelada e algumas tecnologias experimentais da cerâmica entretecem-se e, com as diferenças próprias da linguagem plástica individual de cada um deles, traduzem e produzem obras de muito considerável valor e alcance, senão modelares, ou exemplares, menos pela diferença que entre si estabelecem do que por aquela que as distingue e sobrevaloriza, em relação a outros artistas do mesmo …ofício.
Sérgio AMARAL, desenhista e pintor, escultor e ceramista, por vocação e profissão de fé, um serrano sedentário da Beira-Interior, inicia a sua carreira em 1981, com 22 anos.
Ricardo CASIMIRO, químico de formação, ceramista-escultor, por vocação e profissão de fé, também, nasce no estuário sadino, à beira-mar e …apenas surge a público mais tarde, em 2003, após ter cursado cerâmica criativa e escultura cerâmica (1999-2005), com 53 anos.
Mais jovem, o primeiro é um artista mais velho. Mais velho, o segundo é, porém, um artista mais novo…
Sérgio AMARAL é um experimentalista self made, investigador autodidacta, que, ao longo de anos, emprestou o seu talento ao mercantilismo artesanal, enquanto Ricardo CASIMIRO, oriundo de dois tipos diferentes (mas inter-complementares) de aprendizado escolar, instituiu, para si mesmo, uma lógica mais elaborada, induzida por uma paixão arqueo-ancestral que o identificou com o visionarismo tentador de Bosch.
Um e outro – lado a lado, frente-a-frente, mano-a-mano – trazem, ambos, um novo desafio a esta portucalense terra de Barcelos – um dos berços históricos da vetusta tradição cerâmica portuguesa – que contou com a majestade artística da grande Rosa Ramalho, de Santa Maria de Galegos.
De MUTANTES se chama esta bela exposição, onde os autores combatem e servem, com lirismo crítico, a mesma iconoclastia sacro-santifical, surrealizando as ortodoxias do real naturalismo e do néon-realismo, por um lado e, enaltecendo, por outro, o poder da imagem usando-o contra si própria, em nome de valores genuínos, contra outras forças artificiais, (in)descritivelmente hipócritas, que campeiam em nome da Paz, nas guerras de hoje. E pensar eu que não edito, aqui, um texto complicado sobre o tema! «Rosa, minha velha Amiga, que estes sejam – na (des)ordem genética desta Vida, dois dos teus sucessores desconhecidos, enquanto portadores de uma mesma mediúnica mensagem!»
José-Luis FERREIRA Caramulo 2007-10-07
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